O artigo intitulado ”Onde começa o litoral” publicado na voz de Trás-os-Montes, suscitou-me um conjunto de considerações, principalmente em relação às causas e consequências destes fenómenos migratórios que exponho de seguida.
Primeiro dizer que concordo plenamente com o que está escrito, e penso que existem na realidade dois fenómenos migratórios distintos, um resultante das zonas rurais para as cidades adjacentes, e outro que resulta da erosão destas mesmas cidades do interior para o litoral e também para fora do país.
Para mim estes fenómenos de migração das zonas rurais, derivam de erros estratégicos seculares de organização do território. Do contacto que tive com as zonas rurais como Médico Veterinário, e de histórias que me contam os meus colegas, todos se queixam do mesmo, explorações de pequena dimensão e dispersas. Penso que este fraccionamento não é só da estrutura agrícola, mas também se assistiu a um fraccionamento social, sempre consentido e apoiado pelo poder político. Na prática, basta olhar à noite para as serras para ver luzes em todo sitio, ou seja casas isoladas por toda a montanha.
Claro que este fraccionamento tem origem histórica, resultante da orografia, mas fundamentalmente de politicas erradas que tem séculos de existência. Discutindo este problema com colegas Espanhóis, questionei-os sobre qual era a razão pela qual têm aldeias melhor organizadas e de as propriedades agrícolas não estarem fraccionadas, eles responderam-me que era muito simples, tinha que ver com a lei das heranças. Fiquei estupefacto quando me explicaram para evitar o fraccionamento, e perda de dimensão, o filho mais velho ficava com os terrenos todos por herança, sendo que com os terrenos “vinha” a obrigação de cuidar dos irmãos. Desta forma criou-se aqui uma organização do território diferente, propriedades de maiores dimensões e mais rentáveis, e agregação das pessoas nas vilas e aldeias, evitando a construção dispersa.
Esta deficiente organização do território tem hoje consequências políticas, económicas e sociais graves nomeadamente:
- Menor acesso a fundos comunitários. Sabe-se que a politica agrícola comum está orientada para a agricultura de latifúndio que é o que interessa à França, Alemanha e que a Espanha devido a sua organização territorial vai buscar bem mais fundos que nós. Portugal devido ao fraccionamento da propriedade, não tem propriedades com dimensão para concorrer a determinados fundos comunitários. As associações agrícolas, que poderiam ter um papel importante na resolução destes problemas têm sido utilizadas, como em muitas coisas neste país, para benefícios de poucos em detrimento do colectivo.
- Existem em hoje em Portugal juntas de freguesia com menos de 100 pessoas, escolas com pouquíssimos alunos, aldeias em vias de extinção etc.
- Envelhecimento acentuado da população rural, abandono de propriedades florestais com os problemas associados fogos, etc.
A verdade é quem vive em Vila Real, constata que muitas das pessoas que vivem actualmente nesta cidade vêm das aldeias e vilas limítrofes, e que muitas das que cresceram e estudaram em Vila Real da nossa geração (normalmente as mais qualificadas) tiveram que ir trabalhar para os grandes centros, ou inclusive para o estrangeiro (penso que em muito maior numero que há dez anos atrás).
Como consequência destes fenómenos migratórios, existe na estrutura social de Vila Real, um desenraizamento cultural acentuado. Os que vieram não cresceram aqui, não se identificam com a cidade, e a maior parte dos que cresceram saíram, e desta forma não contribuem para manter uma identidade cultural e integrar dos que chegam.
Desta forma nota-se em Vila Real uma acentuada falta de força da sociedade civil, não existe associativismo, e sem isso as cidades perdem vida. Basta passar ao Domingo à tarde pelas ruas da cidade para ver que parece uma cidade fantasma, as pessoas não se sentem integradas, não sentem a cidade como sua. Penso que esta falta de identidade cultural, em muito prejudica a evolução da cidade, leva à falta de massa critica e à sua descaracterização.
São problemas que se acentuam e com tendência a piorar porque o maior (e quase único) investidor na região, o estado passa por dificuldades orçamentais.
Como sempre é a lei do salve-se que puder, e quem não pode …..
Primeiro dizer que concordo plenamente com o que está escrito, e penso que existem na realidade dois fenómenos migratórios distintos, um resultante das zonas rurais para as cidades adjacentes, e outro que resulta da erosão destas mesmas cidades do interior para o litoral e também para fora do país.
Para mim estes fenómenos de migração das zonas rurais, derivam de erros estratégicos seculares de organização do território. Do contacto que tive com as zonas rurais como Médico Veterinário, e de histórias que me contam os meus colegas, todos se queixam do mesmo, explorações de pequena dimensão e dispersas. Penso que este fraccionamento não é só da estrutura agrícola, mas também se assistiu a um fraccionamento social, sempre consentido e apoiado pelo poder político. Na prática, basta olhar à noite para as serras para ver luzes em todo sitio, ou seja casas isoladas por toda a montanha.
Claro que este fraccionamento tem origem histórica, resultante da orografia, mas fundamentalmente de politicas erradas que tem séculos de existência. Discutindo este problema com colegas Espanhóis, questionei-os sobre qual era a razão pela qual têm aldeias melhor organizadas e de as propriedades agrícolas não estarem fraccionadas, eles responderam-me que era muito simples, tinha que ver com a lei das heranças. Fiquei estupefacto quando me explicaram para evitar o fraccionamento, e perda de dimensão, o filho mais velho ficava com os terrenos todos por herança, sendo que com os terrenos “vinha” a obrigação de cuidar dos irmãos. Desta forma criou-se aqui uma organização do território diferente, propriedades de maiores dimensões e mais rentáveis, e agregação das pessoas nas vilas e aldeias, evitando a construção dispersa.
Esta deficiente organização do território tem hoje consequências políticas, económicas e sociais graves nomeadamente:
- Menor acesso a fundos comunitários. Sabe-se que a politica agrícola comum está orientada para a agricultura de latifúndio que é o que interessa à França, Alemanha e que a Espanha devido a sua organização territorial vai buscar bem mais fundos que nós. Portugal devido ao fraccionamento da propriedade, não tem propriedades com dimensão para concorrer a determinados fundos comunitários. As associações agrícolas, que poderiam ter um papel importante na resolução destes problemas têm sido utilizadas, como em muitas coisas neste país, para benefícios de poucos em detrimento do colectivo.
- Existem em hoje em Portugal juntas de freguesia com menos de 100 pessoas, escolas com pouquíssimos alunos, aldeias em vias de extinção etc.
- Envelhecimento acentuado da população rural, abandono de propriedades florestais com os problemas associados fogos, etc.
A verdade é quem vive em Vila Real, constata que muitas das pessoas que vivem actualmente nesta cidade vêm das aldeias e vilas limítrofes, e que muitas das que cresceram e estudaram em Vila Real da nossa geração (normalmente as mais qualificadas) tiveram que ir trabalhar para os grandes centros, ou inclusive para o estrangeiro (penso que em muito maior numero que há dez anos atrás).
Como consequência destes fenómenos migratórios, existe na estrutura social de Vila Real, um desenraizamento cultural acentuado. Os que vieram não cresceram aqui, não se identificam com a cidade, e a maior parte dos que cresceram saíram, e desta forma não contribuem para manter uma identidade cultural e integrar dos que chegam.
Desta forma nota-se em Vila Real uma acentuada falta de força da sociedade civil, não existe associativismo, e sem isso as cidades perdem vida. Basta passar ao Domingo à tarde pelas ruas da cidade para ver que parece uma cidade fantasma, as pessoas não se sentem integradas, não sentem a cidade como sua. Penso que esta falta de identidade cultural, em muito prejudica a evolução da cidade, leva à falta de massa critica e à sua descaracterização.
São problemas que se acentuam e com tendência a piorar porque o maior (e quase único) investidor na região, o estado passa por dificuldades orçamentais.
Como sempre é a lei do salve-se que puder, e quem não pode …..
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